sábado, 24 de novembro de 2007

O pastor no meio dos doutores


No final desta tarde enquanto participavam de Formatura de um amigo (foi o primeiro a receber o Titulo de Doutor), fiquei mais uma vez frente a frente com um pastor de verdade.
Conheci e conheço muitos pastores. Alguns pastores, outros pastores de pastores. Um deles em Recife, entre 1984-1986 eu prendia a respiração quando passava por perto. Parecia que o ar respirado por ele, era de uma outra dimensão além daquela que eu habitava.
Na cerimônia, depois muitas falas, todas importantes e relevantes, teve o momento para a parenese do Pastor. Ele falou como um solista de uma grande orquestra. Iniciou assim: “Eu não tenho muitas palavras para dizer aos doutores e mestres que recebem o grau nesta tarde. Eu não tive e não sei se terei a oportunidade de cursar um Mestrado ou ainda um Doutorado. Eu sempre fui pastor! Quando saí do Seminário, Deus me enviou para o interior do nosso país, numa região difícil, para viver com um povo simples e sofrer com um povo simples. Fiz isto durante toda a minha vida. Digo hoje, aos Mestres e Doutores: não usem este titulo na cabeça, use-o nos pés, sejam servos e continuem servindo...”


Saí daquela cerimônia impactado. Rapidamente cumprimentei algumas pessoas e em especial dois amigos, um deles, doutor, novinho em folha. Entrei no carro e vim horrorizado pela profunda humildade daquele pastor.


Pareceu-me de susto que o próprio Senhor Jesus de forma maviosa se manifestaria a mim numa cerimônia como aquela, daquela forma. Creio que foi assim no meio dos doutores e em outras oportunidades, Ele às vezes nos deixa estarrecidos com a sua simplicidade, com a sua ausência de pompa e com o seu olhar de Cordeiro, manso, humilde. Fazendo louca a sabedoria dos homens, mesmo a sabedoria teológica dos homens.


Eu quero muito ter a fé simples daquele pastor e a visão do mundo com aquela lente tão límpida, tão desprovida de vaidades e tão excelente. Com aquelas palavras percebi que não posso receber qualquer titulo senão de joelhos diante do Grande Rei, colocando tudo ao seu serviço e ao seu dispor.


Conheço mais de uma dezena de doutores e mestres que também são gigantes diante dos desafios e até tribulações, eles me motivam a buscar uma vida acadêmica de grande relevância e neles tenho aferido a pratica da teologia que pregam. São exemplos vivos de que a Academia não apaga a pratica dos ensinos da vida cristã.


Neste emaranhado de sensações e reflexões me lembrei ainda que dentre os milhares de pastores que conheço, nem todos foram chamados para Mestres e Doutores e poucos foram chamados para exercerem o pastoreio de pastores. Espero caminhar na historia, nos mesmos passos daqueles que não usam a Academia para a politicagem, para a soberba e para a desgraça pessoal e alheia.


Por estas razões, o impacto daquele pastor na minha vida certamente não finalizará hoje. Pude ver novamente que os títulos e graus nos fazem especialistas academicos. Deus, todavia nos faz dependentes da sua bondade e fidelidade. Assim, só estaremos felizes quando eticamente nossos títulos e graus nos fizerem andar de joelhos na presença Daquele que é Eterno e Soberano.


Deus sempre abençoe aquele pastor, um exemplo vivo do pastoreio de Cristo no meio dos pastores e no meio dos Mestres e Doutores.

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